HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E MEU MUNDO

Comecei a ler as histórias em quadrinhos aos sete anos se me lembro bem, mas as imagens que ficaram em minha mente sobre os heróis e vilões superpoderosos remontam aos onze anos, ao que parece foi aí que elas se fixaram melhor em minha mente. Lia todos os dias e ouvia músicas internacionais enquanto isso. Eram os anos 80. Uma mistura maravilhosa de músicas excepcionais e desenhos espetaculares para a minha imaginação naquele tempo.

Essas duas coisas tão importantes ajudaram a formar minha maneira de ver o mundo. Por um lado criou-se em mim uma mentalidade do ideal de um universo que poderia ser belo, harmonioso e seguro, claro, se derrotássemos todos os inimigos do bem, e por outro, dentro de mim foi gerado um lugar de refúgio onde não precisaria de nada do mundo exterior, como drogas, experiências conflitantes e relacionamentos ruins. Poderia fugir para lá sempre que quisesse.

A vida passa e nossa noção e percepção do mundo vai desmoronando a cada período ou estágio da vida, e também se reconstruindo. Vem a juventude e multiplicam-se as oportunidades para o bem e para o mal, fazemos escolhas e muitas delas não correspondem ao nosso ideal de vida e de mundo, mas continuamos ainda sonhando com nossos heróis e suas histórias, ainda pensamos que somos invencíveis e, quem sabe, um dia, tudo o que sonhamos se tornará possível.

O relógio do tempo continua a rodar e chegamos à fase adulta. Deixamos para trás muitas coisas de “criança” e não sonhamos mais como antes, nossos heróis viraram personagens de filmes modernos com uma ajudinha da alta tecnologia. Saíram do papel e foram para as telas e agora os vemos em tamanho gigante. O mundo não melhorou, só melhorou a tecnologia e os acessos à informação global, mas o ser humano que parou de ler as antigas histórias em quadrinhos não diferencia mais claramente o bem e o mal.

A maturidade me trouxe a uma realidade da qual, se pudesse, retornaria ao tempo de criança, onde tudo parecia mais simples, mais fácil de resolver e mais rápido poderia ir ao meu lugar de refúgio. Hoje o mundo não está mais seguro e nem desfrutamos da liberdade que queremos, porque o medo do outro faz os homens viverem trancafiados em seus próprios cárceres. Os vilões se multiplicaram e eles têm alguns poderes nas mãos.

O mundo em que vivo hoje todos os dias está fervilhando de mortes, de violência, de corrupção e de crimes de todos os tipos e não temos os heróis dos quadrinhos para nos salvar. O certo e o errado foram relativizados à experiência e conceito pessoal de cada um. O bem e o mal agora são apenas questões de semântica para outros. Os modernos heróis vivem na crise entre o certo e o politicamente correto e os homens buscam uma paz que não acontece.

É claro que ainda há o belo, a esperança, o amor, o altruísmo, os sacrifícios solidários e muitas outras coisas que fazem valer a pena continuar a sonhar e a viver por aqui. Por causa de todas essas coisas boas é possível pensar que a solução é que cada um de nós se torne aquele herói ou heroína que admirávamos e faça a sua parte para que o antigo ideal de mundo melhor se realize. Há algo dentro de nós que ainda nos impulsiona a crer que o melhor está por vir, mesmo que a dura realidade do mundo atual nos mostre o contrário.

Ainda penso nos meus antigos heróis, incorruptíveis, altruístas, solidários e sem medo, lutando para proteger os inocentes e o mundo dos vilões e do mal. Talvez por isso, somado à minha fé, acredito que um final melhor está reservado.

Carlos Carvalho
14 de abril de 2014


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