Porque não existem super-heróis ou supervilões no mundo real? E porque assim é melhor?
PORQUE não existem super-heróis ou supervilões no
mundo real?
E porque assim é melhor?
Imaginem a cena cinematográfica: um criminoso com poderes
quaisquer no centro de uma cidade, vai até um banco ou a uma joalheria roubar.
Porque seres com poderes ainda pensam como bandidos normais e seus objetos de
desejos ainda são os mesmos, não sabemos. Ele usa seus poderes, mata os
seguranças, fere pessoas e, ao sair, se depara com o herói igualmente poderoso.
A luta vai para a rua, onde carros com pessoas dentro, famílias em trânsito ou
veículos estacionados de pessoas no trabalho são destruídos e mais pessoas e
crianças são mortas. A polícia tenta conter e ajudar os transeuntes e, ao mesmo
tempo, tempo atira no criminoso que não pode ser morto por balas. As balas se
tornam projéteis sem destino e atingem pessoas nos prédios e nas janelas que
observam a luta. Um corre-corre dos infernos para todos os lados de gente
assustada tentando se proteger, mas sem sucesso. Prédios são abalados,
escritórios invadidos pela batalha, lanchonetes e comércios próximos são
avariados seriamente. Por fim, o bandido é contido pelo herói, preso e enviado
pela polícia à prisão. O resultado dessa guerra de poderes são pessoas mortas e
feridas e um caos gigantesco num raio de um ou dois quilômetros a partir do
centro da luta. A destruição dos bens públicos e particulares também são o
efeito colateral desta cena.
O dia termina e a manhã nasce com uma quantidade imensa de
tarefas a serem feitas e prejuízos a serem contabilizados. Velórios são
realizados em algumas partes da cidade, empresas públicas e particulares se
movem para remover os escombros e os carros avariados. As seguradoras enviam
seus analistas para averiguar os locais e os veículos assegurados na tentativa
de se livrar do sinistro e do ressarcimento de bens e valores envolvidos na
batalha do dia anterior. A semana corre e lentamente a vida volta ao normal,
mas com muita coisa fora do lugar, empresas que não podem operar pela
insegurança dos locais. Companhias elétricas, telefônicas e de gás passam todos
os dias reconstruindo e reposicionando tudo o que foi destruído e muitos
empregados sem trabalho ou em espera de poder voltar aos seus serviços, sem
saber se continuarão em seus empregos ou não. Tudo isso e muito mais, além dos
traumas psicológicos e da recuperação de todos os feridos em hospitais e
clínicas da cidade.
Isso foi o resultado de somente uma batalha de seres
poderosos. Imaginem se isso fosse multiplicado aos milhares? Uma batalha a cada
dia em centenas de cidades pelo mundo todo? Quem pagaria por tudo isso? Quanto
custaria todos os seguros para o indivíduo comum? Quem pagaria pela
reconstrução de tudo o que foi destruído? O vilão ou o herói não seriam
responsabilizados por nada? As famílias enlutadas teriam alguma indenização do
Estado? Os veículos destruídos seriam removidos e comprados por quem? As
seguradoras manteriam seus serviços num mundo assim? Teríamos dinheiro
suficiente para fazer tudo o que seria necessário fazer? Qual seria o custo de
vida para uma pessoa comum viver num mundo de gente com superpoderes? E estas
são apenas as perguntas iniciais!
Por isso, desde criança amo o mundo das histórias em
quadrinhos, dos super-heróis e passei isso para minhas filhas, mas este universo
só serve para as revistinhas e para os filmes de nossos dias. Super-heróis e
supervilões são maravilhosos no mundo da fantasia, porém, são inviáveis
financeiramente e materialmente em nosso mundo real. O custo de sua existência
traria muito mais fome, miséria e pobreza ao planeta do que seus atos de
batalhas heroicas poderiam mostrar de grandeza e honra. O lugar deles é
exatamente onde estão: nas revistas e nos cinemas. O ser humano sem poderes já
demonstrou do que é capaz com as guerras, os genocídios, os homicídios, os
crimes mais variados e com toda a destruição que vemos até aqui. Não
precisaríamos de seres superpoderosos para criar mais caos do que aquele que
possuímos.
Graças a Deus que em nosso mundo não existes heróis ou
vilões com poderes e graças a Deus por ter criado o mundo assim. Não sou
pessimista ou realista no conceito filosófico, somente descrevo um fato pelo
qual sou imensamente grato. Os nossos verdadeiros heróis são os homens e
mulheres que, sem poderes, mantêm viva a nossa esperança, trabalham duramente
por uma vida melhor para todos e sustentam suas famílias, empregos e empresas
com dignidade, honestidade, com ética e moral, igualadas aos mais excelentes
super-heróis dos quadrinhos e do cinema. A estes e estas a nossa mais profunda
admiração.
Carlos Kleber Carvalho
Escola do Pensamento - Elucubrações
Janeiro de 2018
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